Em entrevista ao Boletim do
NPC, Dioclécio Luz fala sobre o que ele considera o veículo de comunicação mais
revolucionário: a rádio comunitária. Trechos da entrevista:
Você diria que a rádio comunitária é
potencialmente revolucionária?
Dioclécio
Luz - Quando ela não tiver
esse espírito revolucionário, ela deixa de ser comunitária. Se ela passa a
copiar a comercial, ela deixa de ser comunitária. A Rádio tem um potencial para
mudar o planeta. Mas como nós não temos certeza de como vamos fazer essa
transformação ficamos titubeando e aí acabamos copiando as emissoras
comerciais. É um problema cultural. O brasileiro não tem cultura para assumir
um veículo como esse por todas as questões sociais existentes em nosso país. A
rádio comunitária é uma rádio do trabalhador, mas não é só isso, as pessoas não
perceberam ainda a capacidade de transformação da rádio.
Você acha que o tema das rádios
comunitárias é tratado de maneira satisfatória nos cursos de comunicação?
Dioclécio
Luz - Hoje, em algumas
faculdades, há bons professores dessa área. Mas os estudantes são formados para
trabalharem na TV Globo, que é considerada o ideal de jornalismo. Não se
consideram diferentes possibilidades de se fazer jornalismo, como por meio da
rádio comunitária. A rádio comunitária precisa ser vista não como um veículo de
esquerda, mas como um instrumento de comunicação crítica. Eu participei como
jurado de um concurso de vídeos sobre direitos humanos e 99% dos vídeos
concorrentes reproduziam o modelo global [da Rede Globo]. Será que não tem
outras formas de fazer? Se não existe, que inventem! Ora, o mundo não acabou.
O que não podemos deixar de saber
sobre rádios comunitárias?
Dioclécio
Luz - Que este veículo é
original, tem que ser original, por natureza e princípio. Quando trabalhamos em
uma rádio comunitária temos que desaprender um monte de coisas. Não existem
duas rádios iguais, e ainda bem que não. Quando a igreja católica, por exemplo,
toma posse de uma rádio comunitária é um crime, ela está impedindo que a
população aprenda a usar o veículo mais revolucionário que existe.
Agora, aumente o volume...
A boa rádio comunitária
é a que cumpre todos estes requisitos. Ou que, pelo menos, tenta segui-los.
Errar não é desumano. Muitas rádios que estão no ar hoje no Brasil se dizem
comunitária. E não são. Não são porque não cumprem nenhum desses princípios,
nem querem cumpri-los. São rádios que pertencem à Igreja, ao empresário, ou é
dominada pelo político. Todos esses setores podem ter sua rádio, mas, por
favor, não a chamem de comunitária. Comunitária é outra coisa.
Mesmo o fato de uma rádio ter a Autorização do Ministério das Comunicações para funcionar não faz dela uma rádio comunitária. Não é um papel que faz uma rádio comunitária. O papel é o menos importante. Do mesmo jeito que não é a carteira de identidade que garante a existência de uma pessoa. A carteira de identidade é somente um documento.
Se a rádio está de fato a serviço da comunidade, se pertence à comunidade, se promove todos os princípios citados, ela é comunitária. Um papel do cartório de Brasília (o MC) vai apenas sacramentar esta verdade. Igualmente a rádio de um espertinho pode até se auto-intitular comunitária, pode até mostrar a autorização oficial pregada na parede, mas não é comunitária.
Neste passo, o autor transcreve dicas de José Ignácio Lopez Vigil, ex-presidente da Associação Mundial das Rádios Comunitárias (AMARC), de como produzir um bom programa de rádio e a manifestação de opção pelo debate e não pela censura.
"(...) Eu me atreveria a dizer que o polêmico é a nova cara do educativo. Na Nicarágua, durante dez anos de revolução, os companheiros foram tímidos para fazer debates na TV. Sentiam insegurança diante deuma direita que dominava melhor que eles a retórica, argumentação, ainda que fossem argumentos falsos. Dizia-se: e se nos metem o gol?
Poucos meses antes das eleições de 1990, a televisão sandinista lançou, pela primeira vez, programas de debate aberto, ao vivo. E esses espaços foram uma escola de pensamento, uma escola política melhor que muitos discursos dos dirigentes. A experiência mostrou a eficácia desses formatos.
Em nossos programas se ouvem opiniões contrárias às nossas? Nas emissoras cristãs se ouvem as vozes dos não-crentes? Os machistas falam nos espaços feministas? A direita fala no espaço da esquerda? Temos sido pluralistas de boca mas sectários e doutrinadores de fato.
Preferimos dar soluções, tirar conclusões, impor nossa opinião sobre as coisas. Temos que passar da cultura da censura para a cultura do debate
Mesmo o fato de uma rádio ter a Autorização do Ministério das Comunicações para funcionar não faz dela uma rádio comunitária. Não é um papel que faz uma rádio comunitária. O papel é o menos importante. Do mesmo jeito que não é a carteira de identidade que garante a existência de uma pessoa. A carteira de identidade é somente um documento.
Se a rádio está de fato a serviço da comunidade, se pertence à comunidade, se promove todos os princípios citados, ela é comunitária. Um papel do cartório de Brasília (o MC) vai apenas sacramentar esta verdade. Igualmente a rádio de um espertinho pode até se auto-intitular comunitária, pode até mostrar a autorização oficial pregada na parede, mas não é comunitária.
Neste passo, o autor transcreve dicas de José Ignácio Lopez Vigil, ex-presidente da Associação Mundial das Rádios Comunitárias (AMARC), de como produzir um bom programa de rádio e a manifestação de opção pelo debate e não pela censura.
"(...) Eu me atreveria a dizer que o polêmico é a nova cara do educativo. Na Nicarágua, durante dez anos de revolução, os companheiros foram tímidos para fazer debates na TV. Sentiam insegurança diante deuma direita que dominava melhor que eles a retórica, argumentação, ainda que fossem argumentos falsos. Dizia-se: e se nos metem o gol?
Poucos meses antes das eleições de 1990, a televisão sandinista lançou, pela primeira vez, programas de debate aberto, ao vivo. E esses espaços foram uma escola de pensamento, uma escola política melhor que muitos discursos dos dirigentes. A experiência mostrou a eficácia desses formatos.
Em nossos programas se ouvem opiniões contrárias às nossas? Nas emissoras cristãs se ouvem as vozes dos não-crentes? Os machistas falam nos espaços feministas? A direita fala no espaço da esquerda? Temos sido pluralistas de boca mas sectários e doutrinadores de fato.
Preferimos dar soluções, tirar conclusões, impor nossa opinião sobre as coisas. Temos que passar da cultura da censura para a cultura do debate