São incomuns as rádios realmente comunitárias
Na frente do prédio, está escrito: Rádio Salgado FM. É uma comunitária, mas pretende se passar por uma rádio comum, de feição empresarial. Isso em um município de menos de 5 mil habitantes, na Paraíba. É corriqueiro. Quase todas as rádios que operam com licença de comunitária omitem essa informação. Por aí se pode deduzir a qualidade da programação. Sem qualificação técnica, os comunicadores imitam locutores e grades de programação das rádios comerciais, o que se costuma chamar de “FM de fundo de quintal”.
Um caso raro de rádio verdadeiramente comunitária e por isso diferente das emissoras comerciais: Rádio Comunitária Camponesa FM no município de Promissão (400 quilômetros de São Paulo). Marta Maia, jornalista, disse que essa rádio “rompe completamente com o padrão tradicional das emissoras radiofônicas”. Para ela, “a subversão do modelo predominante no dial brasileiro pode ser constatada em uma simples audição da Rádio Camponesa. Folias de Reis, sotaques diversificados, crianças cantando, entrevistas ao vivo, músicas de luta, protestos, dicas de plantio, convocações para reuniões e informações alternativas podem ser ouvidas diariamente nesta emissora”.
Na Paraíba, os grupos sociais organizados já pensam em buscar espaços na rádio oficial do Governo, a Tabajara FM. “É que não temos rádios comunitárias funcionando com outorga, apenas uma, mas essa mesma só abre espaço na programação mediante pagamento”, disse o radialista Marcos Veloso. Na verdade, as rádios comunitárias não chegaram a atingir nem perto de sua destinação, que seria fazer com que cidadãos passem de sujeitos passivos a agentes ativos, criadores e consumidores de suas próprias mensagens.