Técnicos da Embrapa fazem palestra para agricultores no Assentamento Maria Preta, em Araçagi/PB
O Assentamento Maria Preta, em Araçagi, Paraíba, está localizado na antiga fazenda Violeta. A comunidade congrega cerca de cem pessoas. Maria Preta foi uma agricultora que lutou muito pela desapropriação da área. Atualmente, o assentamento vem sofrendo uma certa degradação cultural. Os jovens não querem saber de reuniões comunitárias, não se engajam em projetos comuns. Os mais velhos desprezam as formas de organização do trabalho, ressurge com força aquela filosofia do consumismo e do individualismo. Acabada a luta pela desapropriação da fazenda, as comissões foram extintas, as práticas culturais camponesas esquecidas.
Tem gente preocupada com o que está acontecendo nos assentamentos. A pesquisadora Marineide Maria da Silva estudou o Assentamento Santa Clara, em Itabaiana, e constatou a acomodação dos agricultores assentados. Em Maria Preta, Totinha é o líder e já vê, com seus olhos experientes, a falta de perspectiva das pessoas. Pouco se percebe, mas a verdade é que parte desses problemas deve ser creditado à cultura de massa, à televisão e ao rádio com sua programação centrada em valores outros que não os do interior do Nordeste. Daí o esquecimento cultural, a alienação, até o desprezo pelas suas raízes que se vê na massa camponesa. Ninguém mais quer dançar a ciranda, prefere ouvir o “forró de plástico”. Não tem mais lugar para o cantador repentista. A mulher que cantava coco-de-roda morreu e não deixou seguidores.
Os estudos mostram que também é marcante a desvalorização das práticas tradicionais na produção. Técnicos do Governo levam metodologias modernas com o discurso da geração de renda e otimização da produção, menosprezando as práticas camponesas seculares, consideradas ultrapassadas pela máquina de fazer dinheiro do capitalismo com sua tecnologia de moer gente e cultura tradicional. O velho artesanato já não recebe atenção nem apoio. O costume de se reunir para discutir os problemas comuns e para a diversão da comunidade foi substiuído pela novela. Perde-se totalmente o espírito comunitário.
Percebendo isso, o líder Totinha e mais alguns companheiros estão querendo implantar no Assentamento uma rádio comunitária para levantar o espírito comunitário e garantir a sobrevivência das tradições culturais do povo da região. “Uma rádio vai dar força ao povo”, acredita Totinha. Recentemente, caiu o teto da sala de aula da escola municipal, dando lugar a uma praga de morcegos. Os bichos expulsaram alunos e professores com urina e fezes. As turmas passaram a estudar ao relento, segundo informa o comunicador Fábio Oliver. “Se a denúncia fosse feita numa rádio comunitária, o prefeito ia se tocar”, pensa um morador.
O certo é que a ideia da rádio comunitária está rolando no Assentamento Maria Preta. Seria uma oportunidade para a juventude local aprender técnicas novas que não sirvam apenas para gerar renda. Também agregariam aumento de auto estima e força comunitária.
Uma professora do Assentamento Maria Preta me procurou para dar alguma assessoria sobre a forma de organização de uma rádio comunitária. Vou e levo meus compadres Marcelo Ricardo e Ricardson Alves, dois baluartes na luta pelas rádios livres e comunitárias, que entendem do riscado na parte técnica em sua estrutura mais elementar. Esses jovens companheiros me fazem sentir com apenas 20 anos de tão bobo, crédulo, entusiasmado e esperançoso que fico quando vejo a perspectiva de ajudar na revalorização da mídia como ferramenta de luta.
Por Fábio Mozart