A
digitalização das transmissões de rádio vai democratizar a comunicação ou vai
servir apenas aos negócios? Essa foi a preocupação expressa pelas rádios
comunitárias e demais atores da sociedade civil que estiveram presentes na
audiência pública realizada pela Comissão de Trabalho, Legislação e Seguridade
Social da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) no dia 14 de junho
(sexta). O evento reuniu entidades que lutam pela democratização da
comunicação, empresários, governo e pesquisadores para discutir a definição de
um padrão digital que contemple diversos interesses.
As
emissoras comunitárias e o Movimento Nacional de Rádios Comunitárias (MNRC)
tiveram especial destaque no debate, representando o segmento que pode ser o
mais imediatamente prejudicado, caso o governo federal decida pela adoção de
uma política de digitalização excludente e que priorize os interesses
comerciais. O deputado Paulo Ramos (PDT) que presidiu a audiência afirmou que
“a luta pelas TV’s, rádios e jornais comunitários talvez seja a principal luta
pela democratização da comunicação” e que “a preocupação das rádios
comunitárias é justificada, pois a situação para elas é drástica. A diversidade
de informações que essas rádios proporcionam à população é muito importante
para ser negligenciada”.
Tião
Santos, da Associação de Rádios Comunitárias do Rio de Janeiro (Arco-RJ),
destacou que não se pode pensar um padrão que não leve em conta as diferenças
regionais. “Não se pode pensar o Brasil como se fosse uma única coisa”, disse.
Como explicou durante sua fala, a geografia do Rio de Janeiro e do Amazonas,
por exemplo, demandam que no primeiro se considere a interferência dos morros
nos sinais e no segundo se leve em conta as grandes distâncias.
Arthur
William, da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc-Brasil), defendeu
que “tem que se discutir a digitalização do rádio à luz da necessidade de um
novo marco regulatório para as comunicações no Brasil”. Segundo ele, “a
política pública de financiamento da digitalização das rádios comunitárias é a
política pública que vai garantir o sucesso da digitalização no país”.
O diretor
do Departamento de Acompanhamento e Avaliação da Secretaria de Serviços de
Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Octavio Pieranti,
apresentou o resultado dos testes com os dois padrões que concorrem para serem
implementados no Brasil e apontou suas deficiências em relação ao padrão
analógico vigente. Justificou, porém, que a metodologia utilizada teria sido
inapropriada e que devem ser realizados novos testes.
O
consultor técnico da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel),
André Felipe Trindade, afirmou que as rádios a maioria das rádios teria que
arcar com um custo em torno de R$ 324 mil para trocarem seu equipamento de
transmissão, valor muito alto principalmente para rádios comunitárias. “Além
disso, os ouvintes teriam que comprar aparelhos receptores de ondas digitais.
Como a maioria da população ouve rádio no carro, não acredito que essa seria
uma preocupação a curto prazo”, acrescentou Trindade.
O
presidente da Associação de Emissoras de Rádio e TV do Rio de Janeiro (AERJ),
Hilton Alexandre, defendeu que a discussão da digitalização do rádio é inútil
pois a utilização das novas tecnologias pela população brasileira teria feito
com que o debate já se encontrasse defasado em uns 20 anos. “Não adianta
discutir rádio digital se as pessoas estão falando de Iphone, Galaxy etc.”,
afirmou. Defendeu também que não se deveria interferir no processo. “É uma
questão técnica, o mercado que vai regular isso”, disse. O representante da
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Gilberto
Kussler, defendeu que “a digitalização não tem atendido as expectativas”.
O
representante do chamado padrão europeu (DRM) criticou os limites de potência
para emissoras comunitárias no Brasil e criticou os testes realizados pelo
governo. Acrescentou que teria interesse em conversar com as entidades
presentes para que pudessem construir acordos em relação ao padrão. A empresa
responsável pelo chamado padrão americano (HD Radio) não compareceu ao debate.
Bruno
Marinoni
Maiores
Informações dos Padrões apresentados pode ser consultados nos sites:
IBOC ( IN Band ON Channel )
http://www.ibiquity.com/
http://www.ibiquity.com/
Digital
Radio Mondiale – Brasil
http://www.drm-brasil.org/
http://www.drm-brasil.org/