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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Papo sobre rádio comunitária


Bate–papo com Cláudio Salles, Wallace Herman e Bernardo Cauê

no auditório Paulo Tapajós, Rádio MEC.

Mediadora – Nossa intenção era ter um dia pra a gente ouvir programas de rádios comunitárias, porque geralmente quando a gente vai falar de rádio comunitária, falamos de política, de concessão, assuntos obviamente muito importantes, cruciais e fundamentais. Mas ficamos sem saber que programação é essa que está indo ao ar nas rádios comunitárias. Muita gente diz: “na verdade as rádios não são comunitárias, estão nas mãos de uns e outros”. E eu sei, por conhecer, que existem programas muito bem feitos em rádios comunitárias, para vários segmentos, programas de serviço, etc. Então eu queria que a gente falasse um pouquinho sobre isso hoje, partindo da experiência que vocês têm como gestores e como produtores. O Wallace e o Bernardo poderão mostrar um pouquinho da produção de deles pra a gente também. Então eu queria que você (Cláudio) falasse da sua experiência com a Pop Goiaba, e de como é montar uma grade de programação de uma rádio comunitária.

Cláudio Sales - Primeiramente eu queria agradecer o convite para estar aqui. É uma grande honra pra gente. E a Pop Goiaba surge justamente pra discutir conteúdo. Que é uma discussão rara, inclusive. Não se discute muito esse negócio de conteúdo na rádio comunitária, mas isso é um problema de todas as rádios. Esse é um problema, uma crise, do rádio de modo geral. Quando se fala em discutir qualidade e conteúdo parece que se está falando em repressão e censura, e não é isso.

Agora, não é uma coisa simples, porque fazer uma rádio bem feita exige dedicação. E você sabe, sobre as rádios comunitárias há muita repressão, e nenhum veículo consegue ter um profissional se dedicando se não tem como pagá-lo. Uma das coisas complicadas sobre as rádios comunitárias é que você não pode ter lucro. E mesmo se pudesse ter o tal apoio cultural, que é permitido, com a concessão de 25 watts, que é o que a lei permite, o alcance é de apenas1 km. Ou seja, a lei que existe é uma lei feita para impedir a existência das comunitárias. Então acho que a Pop Goiaba conseguiu um relativo sucesso pela programação, e porque já vinha com a minha experiência de profissional de rádio, por ter passado na Globo FM, na Fluminense FM. Fazíamos muitas vinhetas, uma programação bem bacana, simplesmente tocávamos o que as outras rádios não tocam. Isso por si só já é um up grade na programação. As comunitárias, muitas delas, só reproduzem o que as rádios comerciais fazem, o que a Rede Globo dita.

Mas acho complicado criticar apenas as rádios comunitárias. Essa série de críticas recaem principalmente nas comunitárias, que são as que não têm dinheiro, que só sofrem repressão. Acho que se o conteúdo das rádios comunitárias não é bom, isso se deve ao Governo. Há uma falta de política pública de comunicação que dê mais atenção à questão do conteúdo, da capacitação. Eu acho que tem uma série de coisas que podem ser feitas, não precisa nem falar agora, e que não são porque não há vontade pública que essas coisas sejam feitas.

Mediadora – Porque não deixam existir uma rádio livre? Porque tem que ser rádio comunitária? Seria porque as comunitárias têm que cumprir uma série de exigências, inclusive de grade de programação? Exigências de conteúdo em relação ao entorno de que ela se encontra?

CS- ... como cobram da rádio comunitária, e não dão estrutura pra ela cumprir. Colocam pra Rádio Comunitária uma série de deveres e, no entanto, nenhuma estrutura. O papel que idealiza uma rádio comunitária é uma coisa sensacional, mas como fazer isso? Não se pode ganhar dinheiro, vender anúncio. Então você está desvalorizando o trabalho dos radialistas. Eu acho essa lei referente à rádio comunitária um absurdo.

Mediadora – Houve um momento em que quiseram tornar obrigatório que só profissionais de comunicação pudessem falar ao microfone e fazer os programas. Ai teve uma grita grande porque isso ia limitar, ia impedir que pessoas da sociedade civil que quisessem fazer comunicações delas pudessem efetivamente fazê-lo. Tinham que ficar subordinadas a um profissional. Agora, quem são essas pessoas que fazem rádio comunitária e qual o teu critério quando você vai aceitar um programa ou não pra tua grade.

(Trecho do longo depoimento)