I Ciclo de Oficinas do Projeto Rádio Kiriri marcou a retomada das atividades da rádio indígena Kiriri FM. Ao longo dos dias de formação, que aconteceu entre 2 e 8 de março, indígenas Kiriris da Aldeia Mirandela, localizada no município de Banzaê, na Bahia, participaram de atividades formativas para a manutenção e operação da Rádio que funciona na aldeia desde 2012.
As atividades colaboraram com a retomada das
transmissões da rádio que haviam sido paralisadas por motivos técnicos e
operacionais. Os aparelhos de transmissão e os computadores, microfones e mesa
de som passaram por manutenção corretiva e preventiva; alguns equipamentos
foram substituídos, um novo computador para edição foi instalado e a rádio
voltou a ocupar a faixa da frequência, para alegria dos indígenas que estavam
sentindo muita falta da “rádio dos índios”, como também é conhecida na região.
Para seu Lôro, artesão indígena que vive na
aldeia Mirandela, o retorno da transmissão agradou muito a todos que já estavam
acostumados com a rádio. “Além das músicas que fizeram falta, sem a rádio
perdemos a forma de nos comunicar com os parentes que ficam nas outras aldeias.
Com a rádio é mais fácil. Se precisar dar uma notícia, avisar de uma reunião, é
mais rápido que ir de casa em casa”, afirma.
Durante as atividades, uma nova forma de
organização, de funcionamento e programação para rádio foi pensada, levando em
consideração o período em que a rádio funcionou na aldeia, a integração de
novos programadores e locutores e os novos objetivos traçados durante a reunião
que discutiu a gestão da rádio, entre a equipe do projeto e as principais
lideranças da Aldeia. Ficou decidido que os novos programadores terão a função
de estimular ainda mais a cultura e a história indígena e da aldeia, com a
inserção de programas ao vivo, produções gravadas e mais músicas indígenas.
Para isso, a equipe de programadores passou
por um intensivo processo de formação para a produção de conteúdos de áudio.
Com o apoio da equipe técnica do projeto, apoiado pela Assessoria de Juventude
e Culturas Digitais da Secretaria de Cultura da Bahia, os indígenas conheceram
e foram orientados para a utilização dos principais equipamentos de transmissão
e gravação, e para o uso de Softwares Livres de edição
.
Gilberto Kiriri, um dos indígenas que
participou das oficinas, destaca as novidades que aprendeu. “Aprendemos a fazer
vinhetas, a gravar uma entrevista, cortar o que não ficou muito bom e juntar as
partes para dar sentido nas histórias. Com isso, o funcionamento da rádio vai
ficar melhor. Vamos poder gravar uma propaganda, um aviso e deixar tocando
automaticamente. Antes tinha que ficar falando toda hora.” Gilberto não esconde
que “mexer” com a tecnologia ainda assusta, principalmente para ele que tem
dificuldades com a leitura. Ainda assim, faz questão de reforçar que aprendeu
tudo, e que na hora de falar, “se os outros tem vergonha, pode me chamar que eu
falo e o pessoal gosta muito”.
Na opinião de Ricardo, que também faz parte
da equipe da Kiriri FM, as oficinas foram muito boas pois reforçaram o que ele
havia aprendido nas oficinas anteriores e o que vinha praticando, depois que
adquiriu um computador e instalou a internet em sua casa. “Com essas oficinas
fiquei mais preparado para mexer na rádio. Já sabia gravar e colocar para
tocar, mas essa parte nova da edição foi muito boa. Eu gosto de tocar e cantar
e agora posso dar uma melhoradas nas minhas músicas antes de colocar na rádio”.
Por
Sergio Melo, produtor e oficineiro do projeto Radio Kiriri