Lau Siqueira
Se diz por
aí que a mídia é o quarto poder. Mas, esta informação é falsa. Pela capacidade
de determinar o silêncio, a voz e os olhares é a maior representação do poder.
Constrói e destrói reputações. Determina o gosto das massas. Em linhas gerais,
impõe a tragédia social da alienação. O rosto da tal Sininho na capa
da revista Veja é um resumo da ópera. A moça foi transformada por decreto
midiático em símbolo do vandalismo. É muita vontade de reduzir nossa
inteligência ao grau zero! Pensar, pra quê? A verdade é que as concessões
públicas para os canais de mídia foi a mordaça da ditadura que sobreviveu ao
poder militar.
Isso não é
privilégio da Paraíba ou do Brasil. Parece que a última boa nova foi
a Teoria do Rádio, de Brecht, nos anos 40 do século XX. Noam Chomsky,
conceituado linguísta norte-americano, apontou dez estratégias de manipulação
mais utilizadas pela mídia. A primeira delas é manter o povo distraído, longe
dos grandes debates de interesse público. E a mídia não faz outra coisa. Ou
criar um problema e ao mesmo tempo oferecer a solução. Inventar crises
econômicas para justificar a subtração de direitos sociais. Propagar mudanças
profundas de forma gradual para que sejam digeridas silenciosamente.
Exigir sacrifícios em nome do futuro. Dar cores de normalidade à certas
aberrações. Quer um exemplo? Fazer com que funcionários públicos aceitem
com resignação um empréstimo individual para receber o próprio salário.
Isso tudo é
muito próximo. Algumas programações mantém suas marcas registradas. Dirigir-se
ao público como se toda a audiência fosse constituída por crianças ou pessoas
de baixa capacidade cognitiva. Alguns são especialistas nisso (Gugu, Faustão,
Silvio Santos...). Sobrepor a emoção à reflexão. Por exemplo, definindo que os
bons sorriem, são brancos e bonitos. Destruir a educação pública (obra prima da
ditadura), mantendo o povo distante da sua identidade cultural. Paulo Freire já
se referia à isso. Dizia que a classe dominante jamais iria patrocinar uma
educação libertadora. Ele tinha toda razão.
Lau Siqueira (Poeta e produtor cultural na Paraíba)