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terça-feira, 11 de março de 2014

Concessões de rádio e TV: mordaça que sobreviveu ao poder militar

Lau Siqueira

Se diz por aí que a mídia é o quarto poder. Mas, esta informação é falsa. Pela capacidade de determinar o silêncio, a voz e os olhares é a maior representação do poder. Constrói e destrói reputações. Determina o gosto das massas. Em linhas gerais, impõe a tragédia social da alienação.  O rosto da tal Sininho na capa da revista Veja é um resumo da ópera. A moça foi transformada por decreto midiático em símbolo do vandalismo. É muita vontade de reduzir nossa inteligência ao grau zero! Pensar, pra quê? A verdade é que as concessões públicas para os canais de mídia foi a mordaça da ditadura que sobreviveu ao poder militar.

Isso não é privilégio da Paraíba ou do Brasil. Parece que a última boa nova  foi a Teoria do Rádio, de Brecht, nos anos 40 do século XX. Noam Chomsky, conceituado linguísta norte-americano, apontou dez estratégias de manipulação mais utilizadas pela mídia. A primeira delas é manter o povo distraído, longe dos grandes debates de interesse público. E a mídia não faz outra coisa. Ou criar um problema e ao mesmo tempo oferecer a solução. Inventar crises econômicas para justificar a subtração de direitos sociais. Propagar mudanças profundas de forma gradual  para que sejam digeridas silenciosamente. Exigir sacrifícios em nome do futuro. Dar cores de normalidade à certas aberrações. Quer um exemplo? Fazer com que funcionários públicos aceitem com resignação um empréstimo individual para receber o próprio salário.

Isso tudo é muito próximo. Algumas programações mantém suas marcas registradas. Dirigir-se ao público como se toda a audiência fosse constituída por crianças ou pessoas de baixa capacidade cognitiva. Alguns são especialistas nisso (Gugu, Faustão, Silvio Santos...). Sobrepor a emoção à reflexão. Por exemplo, definindo que os bons sorriem, são brancos e bonitos. Destruir a educação pública (obra prima da ditadura), mantendo o povo distante da sua identidade cultural. Paulo Freire já se referia à isso. Dizia que a classe dominante jamais iria patrocinar uma educação libertadora. Ele tinha toda razão.

Lau Siqueira (Poeta e produtor cultural na Paraíba)