No Brasil, o surgimento das rádios
comunitárias fez parte de um movimento que pressionava pelo direito à
Comunicação e pela democratização dos meios. Os movimentos populares, além de
cobrarem do Estado o reconhecimento legal das experiências comunitárias, buscavam
garantir o acesso a um meio de Comunicação relativamente barato, através do
qual pudessem multiplicar o trabalho de
conscientização política, a luta por direitos, cidadania e a construção de
contra-hegemonia a partir do espaço local.
É em torno desse cenário que se
constrói Gestão e mediações nas rádios comunitárias, obra que reúne os
resultados da pesquisa de mestrado realizada por Terezinha Silva, entre
2003 e 2005, no Curso de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). A obra tem como objetivo analisar o processo
de desenvolvimento e consolidação das rádios comunitárias em Santa
Catarina, focalizando o papel exercido pelas emissoras populares nas
experiências locais de aprendizado e de exercício de cidadania.
Na introdução, a autora lança duas
hipóteses que norteiam sua investigação. A primeira pressupõe que a rádio
comunitária possibilita aprendizado para o exercício da cidadania mais pelo processo
de gestão coletiva do que propriamente pelos conteúdos da programação; e
a segunda, assume como premissa que a gestão de uma rádio comunitária é uma
iniciativa de concorrência com emissoras comerciais, que, em certo ponto, é
controlada pela iniciativa jurídica vigente, mas ao mesmo tempo é incentivada e
conformada pelas demandas da economia, da vida política e das afirmações
identitárias locais.
A obra tem consistência
teórico-metodológica e se constrói empiricamente por meio de uma abordagem
qualitativa calcada no uso da técnica da entrevista como principal
procedimento. A partir do mapeamento meticuloso das rádios de baixa potência em
funcionamento no estado de Santa Catarina, a autora seleciona seis rádios
comunitárias para compor o universo empírico. A seleção abrange uma emissora
classificada como mista - por aliar iniciativa e/ou gestão individual, com
certa abertura à comunidade - e outras cinco comunitárias, representadas por
aquelas emissoras em que a comunidade, diretamente ou através das associações de moradores e outras entidades,
participam da gestão e/ou da produção dos conteúdos veiculados. Um critério
consistente no processo de escolha desse corpus foi o de contemplar
experiências realizadas nas quatro regiões do estado catarinense.