Grupo gestor da Rádio Comunitária Mituaçu. À esquerda, Fábio Mozart, da Rádio Zumbi |
A gente se empolgou demais.
Era a primeira outorga de rádio comunitária para uma área rural quilombola na
Paraíba, controlada por associação de moradores da localidade Mituaçu, no
município do Conde, Paraíba. O pessoal de lá pediu ajuda, e tão logo
sintonizamos o pedido de auxílio, desabalamos na carreira para o mato, para
instalar os equipamentos da emissora de baixa potência, mas de alta expectativa
para um grupo de pessoas comuns que viviam o sonho de botar no ar uma rádio
comunitária.
Nosso grupo é tendencioso.
Eu, o jornalista Dalmo Oliveira, o músico Gilberto Júnior e os comunicadores
Marcos Veloso e Beto Palhano entendemos rádio comunitária como um projeto
democrático e decente de comunicação popular, uma experiência diferente de
fazer rádio, sem os clichês, as manhas e os vícios do rádio comercial. Foi o
que tentamos passar ao grupo gestor da Rádio Comunitária Mituaçu do Conde.
A realidade: não temos gente treinada para assumir o
microfone. Os voluntários praticam um radialismo que é imitação grotesca do
rádio comercial. Não existe capacitação para comunicadores e técnicos. A
comunicação restrita à comunidade tem uma grande importância na vida das
pessoas. O papel do rádio comunitário é difundir idéias para transformar a realidade.
Não se faz isso balizando-se na produção da rádio comercial. O planejamento, a
gestão, o modo de interagir com o ouvinte, as músicas que toca, os programas
que veicula, até a forma de falar dos locutores deve ter um diferencial.
Sabemos que isso é complicado porque numa rádio comunitária a inclusão é a
palavra de ordem. Tem que ter lugar para o jovem inconsequente e bitolado pelo
lixo da indústria cultural, mas é preciso que se tenha um planejamento para
alcançar objetivos estratégicos e administrar os conflitos. O que não se pode
fazer é criar uma rádio que, ao fim, é apenas uma “Jovem Pan de fundo de
quintal”, como já definiu alguém.
A Rádio Mituaçu é uma estação de rádio do movimento
popular. Precisa se ver como uma mídia revolucionária, um instrumento autêntico
do poder popular. Falta muito para isso.