Darliete Sousa Lima
Primeiramente, quero dizer que fiquei muito triste por não termos terminado de assistir ao documentário sobre a criação da Rádio Comunitária ESPERANÇA, situada na cidade de Guaribas, pioneira do programa do governo Fome Zero, e que nos mostra que muitas vezes a fome não é necessariamente somente de alimentos, mas como também é importante a comunicação em nossas vidas.
Esse documentário, pelo pouco que foi mostrado, além de trazer conhecimento de como é importante uma rádio para uma comunidade, nos mostra o poder da coletividade, solidariedade, da comunicação e que é importante termos esperança sempre.
Desde os primeiros momentos do filme, logo me identifiquei com as imagens, o cotidiano daquela senhora que acorda cedo, sai em busca da água, aquele senhor sentado na cadeira em frente a sua casa. Todas essas cenas fizeram com que eu voltasse no tempo, pois eu vivi, presenciei, fui aquela criança com um balde d´água na cabeça, alguns anos atrás. Até os meus quinze anos de idade, eu morei num pequeno vilarejo chamado Vila Canindé, localizado no município de Tomé-Açú, no interior do estado do Pará, onde naquela época assim como Guaribas, a comunidade tinha fome de comunicação.
Não existiam telefones. Rádio e televisão eram somente para quem tinha poder aquisitivo para comprar uma antena parabólica. Eu presenciei o avanço, a popularização da televisão, mas a rádio comunitária da comunidade, onde era possível ouvir as vozes dos meus amigos, que são os responsáveis pela mesma, ou ouvir uma música selecionada por algum deles, o surgimento da rádio do meu povo, não tive prazer, porque nessa época eu já estava morando em São Paulo.
Mesmo estando eu aqui, a três mil quilômetros de distância daquela pacata vila que foi e é tão importante para minha vida, onde eu cresci, fui beneficiada pela rádio que lá surgiu. A rádio surgiu junto com o telefone público. A partir disso, transformou a vida daquelas
pessoas e a minha. Meus familiares e amigos moram todos lá, e o telefone é essencial para que eu possa comunicar-me com eles.
Em frente à casa de minha mãe tem um orelhão, de onde ela efetua as ligações para mim e recebe as minhas, mas um dia ele quebrou e assim permaneceu por vários dias. Portanto, fiquei impossibilitada de falar com todos.
Foi quando lembrei que a minha mãe comentou sobre a rádio da Vila, que foi criada e era a novidade do momento, pois as pessoas podiam ligar e oferecer músicas, enviar recados, colocar propagandas dos seus estabelecimentos comercias e outros, e passou o número do telefone para mim.
Então, tive a brilhante idéia de ligar e pedir para que os meus amigos locutores da rádio mandassem um recadinho para a minha mãe, falando que eu estava com saudades dela e de todos e que não estava conseguindo falar com ela. Marquei até um horário para que ela fosse até outro orelhão que fica um pouco distante e esperasse a minha ligação. Tudo resolvido: “matei” as saudades dos meus amigos, os locutores da rádio, e esclareci o mal
entendido, pois ela achava que eu esquecido de todos, porque eu nunca mais tinha ligado, como costumava fazer todos os finais de semana.
Não tem como descrever nem a minha emoção ao falar com os meus amigos da rádio nem a deles, que ficaram cheios de orgulho, pois era muito importante publicar um recado que veio de tão longe. Todos ficaram comentando, envaidecidos, foi inesquecível.
Apesar de haver vários orelhões e uma grande quantidade de domicílios com linha telefônica, o que predomina até hoje na Vila Canindé são as cartinhas que são deixadas embaixo da porta da rádio, com mensagens de amor, amizade, que deixam aqueles a
quem as mesma são destinadas com o ego, a auto-estima, elevadíssimos.
Darliete Sousa Lima escreveu este texto para a Disciplina Tecnologia Educacional I, que compõe a grade curricular do 3º semestre do Curso de Pedagogia da Faculdade Sumaré.
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