Curso de rádio na Associação Cantareira |
José Eduardo
de Souza, ou Zé Eduardo, como gosta de ser chamado, possui uma série de
atividades como jornalista, que vão desde o trabalho de assessoria de imprensa até a luta
sindical. Uma delas se destaca: a atuação como educador popular na Rádio Comunitária
Cantareira.
Luciano
Maluly: Quais
as prioridades ou as necessidades de uma Rádio
Comunitária?
Zé
Eduardo: A rádio comunitária existe em função de uma
comunidade, de um lugar
específico, geográfico. Ela não é uma rádio, pensando em termos da cidade de
São Paulo,
de abrangência da cidade, muito menos de uma macrorregião da cidade. Ela se resume
a um bairro, uma pequena região. No caso nosso, é a região Brasilândia, que tem
hoje aproximadamente duzentos mil habitantes. Então é para essa região que
existe
a
Rádio Comunitária Cantareira. É claro que nós estamos na Internet. Quem acessar
a Internet
no www.radiocantareira.org vai ouvir a Rádio Cantareira, na
Brasilândia, falando
do local e também de outros temas que interessam.
Então o objetivo fundamental
de uma rádio comunitária é servir a uma comunidade, que normalmente
não
aparece na mídia comercial. Então a gente não tem vez, não tem voz, nem espaço na
mídia comercial, seja mídia impressa, na televisão ou no rádio. Se nós olharmos
a periferia
da cidade de São Paulo e das grandes cidades, e se nós olharmos, sobretudo a televisão
e mesmo o rádio, a gente vai ver que a periferia aparece em situações muito específicas,
quais sejam: a violência policial, então dá a impressão de que na periferia só existe
a violência e só existem problemas; ou então quando acontece algo muito
inusitado,
que não tem como esconder, que pode ser algo muito bom, legal e interessante.
Então é dessa forma que aparece a periferia. Mas, na periferia, não acontece
só violência, não acontecem só situações de morte e situações de abandono, de esgoto
a céu aberto. Tem atuação interessante, muito movimento cultural. Existem jovens
e outros grupos fazendo música, teatro e cinema na periferia. Grupos cuidam de crianças,
para que não caiam no mundo da violência e das drogas. Há famílias e trabalhadores
envolvidos em solidariedade com os vizinhos. Muita gente cuida de idosos
e de crianças doentes.
Essas coisas não aparecem na mídia, até porque não é de interesse
mostrar que na periferia há vida inteligente. A rádio comunitária tem como prioridade
despertar e mostrar essa ação que acontece na periferia, as ações de lutas em defesa
da vida, em defesa de uma melhor qualidade de vida, mas também despertar para participar.
Despertar para que as pessoas possam engrossar mais esse caldo cultural,social,
da luta por melhores condições de vida, do rap, do hip hop, do samba, do forró, das
músicas que aparecem na periferia, que determinam a prioridade da Rádio
Comunitária.
Leia
a entrevista completa: