Em meio a músicas e
divulgações comerciais, rádios e vozes comunitárias em Manaus contribuem para o
desenvolvimento político e social de suas comunidades, ainda que timidamente.
Mas, para sociólogos e estudiosos do meio, esses espaços poderiam ser melhor
utilizados em prol da população, com menos propagandas, por exemplo.
Manaus - No bairro Santa
Etelvina, zona norte, é através da ‘Radio Atividade’ que os moradores se
mobilizam, se informam, ajudam pessoas a encontrar documentos perdidos e até
emprego. Avisam quando há campanhas de vacinação no bairro e ainda orientam os
moradores a ficar “de olho” nos políticos que passaram pelo bairro, fazendo
promessas e não cumpriram. Tudo isso, através de apenas um programa de
transmissão diária, segundo um dos responsáveis pela rádio comunitária,
Francisco Azevedo.
“Nós tentamos ensinar
as pessoas a cobrar seus direitos, a ser cidadãos. Mas faltam mais projetos
voltados para isso”, disse Azevedo, explicando que o envolvimento da população
com a rádio ainda é tímido.
Para a estudante Tainá
de Souza Matos,18, arádio comunitária mostrou que o veículo cumpre um papel
importante, ao revelar que aprendeu a escolher melhor seus candidatos
políticos, com orientações da rádio. “Eles (apresentadores) incentivam as
pessoas a não votar naquele político que prometeu e não cumpriu e a gente
aprende”, contou.
Opinião semelhante tem
o comerciante Cleber Batista de Lima, 26, que ressaltou o trabalho da rádio em
ajudar pessoas a encontrarem documentos perdidos e até a encontrar emprego.
Para o aposentado
Raimundo Carneiro Gomes,63, a comunidade mudou muito desde a implantação da
rádio comunitária, há quatro anos, devido à mobilização dos comunitários. “A
comunidade se desenvolveu, cresceu, a segurança ficou melhor. O pessoal que
estava desempregado consegue emprego pelos anúncios da rádio, as coisas
melhoraram”, avaliou.
Na zona leste, trabalho
semelhante é desenvolvido pela rádio comunitária ‘A Voz das Comunidades’,
através do único programa de orientação social, o ‘Espaço Aberto’, que auxilia
a população e tira dúvidas via telefone, segundo a presidente da rádio,
Ivaneide Maciel.
Ela conta que
parlamentares e outras autoridades são convidados para prestar esclarecimentos
sobre problemas do bairro, como falta d’água, por exemplo¸ e responder a
reclamações dos moradores, mas ressaltou que a emissora não tem ligações
políticas. “A rádio faz um trabalho de cidadania. Aqui é o alto falante dos
excluídos. Aqui, eles têm voz e vez”, afirmou.
Em uma volta pelo bairro, apenas três de dez pessoas
ouvidas pelo Portal
D24AM disseram que escutam a rádio, entre elas a dona de
casa, Valéria Ramos Oliveira, 27. Para ela, a rádio aborda poucos assuntos
políticos, sociais, ou ligados a problemas da comunidade.
Especialistas
Para a radialista e
doutoranda em Sociedade e Cultura da Amazônia, com ênfase em comunicação
comunitária, Edilene Mafra, as rádios perderam parte da sua finalidade. “São
espaços que não estão sendo utilizados como deveriam, que poderiam ser melhor
aproveitados para o desenvolvimento dessa comunidade”, afirmou.
Mafra atribui o desvio
de finalidade às regras que disciplinam as rádios comunitárias e não definem
com clareza a recepção de recursos via “apoio cultural”. “As rádios só podem
receber recursos através de apoio cultural. O problema é que não fica muito
definido o que é esse apoio cultural”, disse.
Para o coordenador do
Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas (NCPAM/Ufam),
professor Ademir Ramos, o desvio de finalidade ocorre por falta de
fiscalização. “O papel social dessas rádios precisa ser resgatado. Se não
houver fiscalização, elas se tornam apenas objeto de exploração mercantil e
política”, afirmou.
A ‘Radio Atividade’ e
a ‘Voz das Comunidades’ são únicas comunitárias licenciadas de Manaus, segundo
dados do Ministério das Comunicações. A Rádio Belo Horizonte era a terceira
rádio comunitária da cidade, mas está com a licença pendente junto ao Ministério.
Manaus também possui
pelo menos 15 vozes comunitárias, conhecidas como ‘bocas de ferro’, que
divulgam informações da comunidade, com linguagem semelhante a de rádio
comunitária.
As rádios comunitárias
devem contribuir para o desenvolvimento social da comunidade e só podem ser
operadas por comunidades e associações sem fins lucrativos. As comunitárias não
podem ter vínculo político, religioso ou com empresas de comunicação. Também
não podem fazer propagandas em troca de subsídios, com exceção de ‘apoio cultural’
de estabelecimentos localizados na área de cobertura da rádio.
Informações: http://www.d24am.com