A professora Márcia Vidal Nunes (foto), do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, afirma em Relatório Técnico-científico que a grande maioria das rádios comunitárias do Ceará vêm assumindo um papel nitidamente instrumental, quer seja para fins político-partidários, nos períodos que antecedem e no decorrer da campanha eleitoral, quer para fins comerciais, desvirtuando-se do seu real papel. No documento, a professora informa que vários políticos profissionais no Estado, que querem se eleger pela primeira vez ou que tentam a reeleição ou mesmo empresários, montaram verdadeiras redes de rádios comunitárias, com o objetivo de utilizá-las durante o período eleitoral.
Um radialista de Sobral, pertencente a uma emissora comercial, e que não quis se identificar revelou que um candidato a vereador conhecido por Paulão, do PSDB, montou pelo menos três rádios e as vendeu ( uma delas a um proprietário de um supermercado local). Ele revela que é um excelente negócio. Uma rádio especificamente que custou quinze mil reais ao político teria sido revendida por quarenta e cinco mil reais.
O processo de criação dessas rádios pode-se dar de várias maneiras. O chefe político delega poderes a algum correligionário que “organiza” a rádio “comunitária” nos termos exigidos pela legislação, arregimentando lideranças locais em torno da criação da rádio, cujos equipamentos e manutenção são custeados pelo político e pela publicidade vendida.
Nos períodos em que não há campanha eleitoral, a rádio funciona como uma rádio comercial comum, sendo um canal de promoção do político junto à população local. Mas há casos em que a rádio comunitária pertence a um líder político e são concedidos espaços para a participação popular, dando a impressão de que a rádio comunitária é autêntica, porque conta com diversos segmentos sociais. Assim, a rádio comunitária tem uma aparência “legítima”, mas o controle dela não é da população, porque o chefe político está por trás dela, exercendo sua influência, usando a rádio para se auto-promover, nem que seja de forma indireta; podendo, a qualquer momento, exercer sua autoridade e “cobrar” da comunidade serviços em troca da coletivização da emissora.