Hoje a instantaneidade e a qualidade do áudio não são as únicas novidades. Com o advento da era digital o ouvinte pode ver, ouvir e ler as informações sobre a música que está sendo executada em tempo real sem as interferências do sistema analógico do AM e FM, além de obter informações personalizadas sobre trânsito e meteorologia. A qualidade do áudio se equipara ao melhor som de CD, atendendo aos ouvintes mais exigentes da música clássica. O rádio digital também permitirá a transmissão de até três programas simultâneos, na mesma frequência, para públicos distintos . Pelo menos é isso, que promete a nova tecnologia digital. Toda essa transição é muito empolgante, mas o rádio não foi feito para ser lido, tendo em vista que, conquistara um público que não tem tempo para isso. Como fica este público acostumado a ter as informações sem precisar para de fazer algo? Vai perder o companheiro do dia-a-dia, nos afazeres domésticos, trânsito, trabalho etc.
Em contrapartida, o advento do DAB - Digital Audio Broadcasting, sistema de transmissão radiofônica, já implantado na Europa e nos Estados Unidos, permite que cada usuário ou internauta possa ter uma emissora de rádio personalizada evidenciando o caráter comunitário e democrático de comunicação e expressão . Mas, “nem tudo são flores” e já existem experiências não muito satisfatórias quanto às novas tecnologias em teste no mundo. Há inclusive, uma brincadeira que diz que “ele é ótimo, quando funciona”.
Vivi duas experiências interessantes sobre rádio digital, em viagem recente aos Estados Unidos: uma ótima e outra ruim. Começo pela boa experiência. É provável que o leitor tenha conhecimento dos serviços de rádio digital por assinatura via satélite. Pude comprovar a evolução dos serviços, com canais regionais exclusivos para apoio e orientação dos viajantes, informações sobre situação das estradas, sobre eventuais acidentes, localização de postos de gasolina, restaurantes, hotéis e outros serviços.
Bem menos positiva foi minha experiência com o rádio digital das emissoras abertas, em AM e FM, com o uso do padrão In Band on Channel (Iboc), ou HD Radio, criado pela empresa Ibiquity. (o mesmo adotado pelo Brasil). Nesse padrão, o mesmo programa é transmitido simultaneamente, no mesmo canal, tanto no modo analógico quanto no digital.
Em AM, o padrão Iboc é inaceitável, porque produz interferências e ruídos incontroláveis. O maior problema é a sua falta de estabilidade ou homogeneidade. Ironicamente, alguns radiodifusores dizem que “ele é ótimo, quando funciona”. Ouvindo algumas emissoras norte-americanas, pude comprovar que o melhor resultado ocorre nas cidades pequenas, em regiões planas e sem grandes obstáculos. Várias emissoras de AM desligam o sistema digital à noite para evitar interferências.
Em FM, ocorre, entre outros, o problema do atraso (delay) de 8 segundos do sinal digital, em relação ao analógico. Como o alcance do sinal digital é menor do que o analógico nos limites de sua propagação, a sintonia oscila entre um e outro, com grande desconforto para o ouvinte . (Grifo meu)
O Brasil escolheu o padrão tecnológico norte-americano - (Iboc) In band on channel. Este padrão digital além de reduzir os gastos para as emissoras que podem atuar na mesma freqüência e nos dois sistemas (analógico e digital) ainda facilita para os ouvintes que não possuem o rádio digital e que podem acompanhar a programação sem perceber nenhuma diferença, apenas sem as novidades do sistema. Para uma emissora transmitir em Iboc digital o gasto gira em torno dos 259 mil reais, um valor muito elevado para as rádios comunitárias. A nova tecnologia de transmissão já está sendo testada por várias emissoras comerciais como o Sistema Globo de Rádio, Bandeirantes, Jovem Pan, RBS e Eldorado, no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba .
Dine Estela
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