Programa "Para todos", da TV BRASIL, visita a Rádio Comunitária Cantareira. |
Quais
as prioridades ou as necessidades de uma Rádio Comunitária?
Zé
Eduardo: A rádio comunitária existe em função de uma
comunidade, de um
lugar
específico, geográfico. Ela não é uma rádio, pensando em termos da cidade de
São Paulo, de abrangência da cidade, muito menos de uma macrorregião da cidade.
Ela se resume a um bairro, uma pequena região. No caso nosso, é a região
Brasilândia, que tem hoje aproximadamente duzentos mil habitantes. Então é para
essa região que existe a Rádio Comunitária Cantareira. É claro que nós estamos
na Internet. Quem acessar a Internet no www.radiocantareira.org
vai ouvir a Rádio Cantareira, na Brasilândia, falando do local e
também de outros temas que interessam. Então o objetivo fundamental de uma rádio
comunitária é servir a uma comunidade, que normalmente não aparece na mídia
comercial. Então a gente não tem vez, não tem voz, nem espaço na mídia
comercial, seja mídia impressa, na televisão ou no rádio. Se nós olharmos a periferia
da cidade de São Paulo e das grandes cidades, e se nós olharmos, sobretudo a televisão
e mesmo o rádio, a gente vai ver que a periferia aparece em situações muito
específicas,
quais sejam: a violência policial, então dá a impressão de que na periferia só existe
a violência e só existem problemas; ou então quando acontece algo muito inusitado,
que não tem como esconder, que pode ser algo muito bom, legal e interessante.
Então é dessa forma que aparece a periferia. Mas, na periferia, não acontece só
violência, não acontecem só situações de morte e situações de abandono, de esgoto
a céu aberto. Tem atuação interessante, muito movimento cultural. Existem jovens
e outros grupos fazendo música, teatro e cinema na periferia. Grupos cuidam de crianças,
para que não caiam no mundo da violência e das drogas. Há famílias e trabalhadores
envolvidos em solidariedade com os vizinhos. Muita gente cuida de idosos e de
crianças doentes. Essas coisas não aparecem na mídia, até porque não é de interesse
mostrar que na periferia há vida inteligente. A rádio comunitária tem como prioridade
despertar e mostrar essa ação que acontece na periferia, as ações de lutas em defesa
da vida, em defesa de uma melhor qualidade de vida, mas também despertar para participar.
Despertar para que as pessoas possam engrossar mais esse caldo cultural,
social,
da luta por melhores condições de vida, do rap, do hip hop, do samba, do forró,
das músicas que aparecem na periferia, que determinam a prioridade da Rádio Comunitária.
Qual a sua estratégia para atrair
o interesse da comunidade, em termos de participação na rádio?
Zé
Eduardo: A estratégia da gente é: primeiro não queremos uma
rádio comunitária que seja imitadora da rádio comercial. Não queremos imitar,
embora a gente
saiba que isso existe. Se você for à Rádio Cantareira ainda vai ter algum
resquício disso. Nós estamos justamente trabalhando um processo de informação
com os nossos comunicadores exatamente para romper com isso. Nós queremos criar
uma rádio alternativa, uma rádio cidadã. Atrair ouvintes é exatamente fazer com
que o público seja protagonista, que possa falar. Ele vai pedir a música, mas
também vai falar do problema da rua, da festa que acontece na comunidade e da
ação social que está desenvolvendo. Ele também vai mostrar a música e a arte
que está fazendo. E é óbvio que vai fazer propaganda da rádio e vai chamar a
atenção para que as outras pessoas ouçam o que ele está falando na rádio. A
estratégia fundamental e principal para nós é exatamente esta, tanto que o
nosso slogan da Rádio Cantareira é “a voz do povo no rádio”, “a voz do povo
(nas ondas) do Rádio”. Na Internet, nós dizemos “a voz do povo na Internet”. Se
você acessar www.radiocantareira.org,
você vai ver o nosso slogan “a voz do povo na Internet”. É
exatamente isto que nós queremos propiciar. Nós queremos apenas ser um canal
em que as pessoas possam se comunicar, falar e dar a sua opinião. É claro que nossa
proposta tem que ser aperfeiçoada. Não é uma coisa que está pronta, acabada. Sempre
exige atenção da gente.
Zé
Eduardo –Jornalista e educador popular.
Revista ALTERJOR
Grupo de Estudos Alterjor: Jornalismo Popular e Alternativo
(ECA-USP)