Equipe da Rádio Comunitária Cantareira |
Depois da árdua tarefa de conseguir
uma autorização do governo federal para operar o serviço de rádio comunitária,
vem outros grandes desafios para manter a emissora funcionando de forma plena.
“Dizer que a rádio é regulamentada pesa bastante. O pessoal procura para fazer
anúncio, todo dia tem gente para fazer apoio, e antes eles ficavam meio
preocupados. Mas hoje temos muito mais limitações, ficou super engessada, com
pouca liberdade de ação. Não pode fazer comercial, por exemplo. Como vai manter
a rádio?”, questiona Juçara Zotti, da Associação Cantareira.
Financiamento
é um tema espinhoso, que tem sido tratado com atenção pelos comunicadores da
Cantareira. “Você vai fazer divulgação de um mercado e chamar de apoio
cultural. É um colaborador que está ajudando, estamos chamando colaboração de
apoio”. Juçara discorda que merchandising é apoio cultural – apoio que procuram
fazer em parcerias com espaços culturais e pessoas que trabalham com arte e
divulgam seus projetos na rádio, pagando ou não. Mesmo com a imprecisão do
nome, essa tem sido a saída para a manutenção da maioria das rádios
comunitárias.
“Os apoios culturais podem ser coisas como o Zé da Padaria que paga para falar o nome do estabelecimento algumas vezes por dia”, explica Rogério, da Heliópolis. Para eles, a lei que a Anatel fez é para impedir que as rádios sobrevivam. Além do sistema de fome, outra limitação que veio com a legalização, foi a proibição de se fazer “links”, para transmissão ao vivo de eventos como shows – “só se usarmos um cabo de 500m do evento até aqui”.
O caso da Nova Paraisópolis, recém legalizada, é similar. Só podem conseguir recursos pelo método do “apoio cultural”, mas é o que podem fazer por ora, mesmo que discordem da legislação. “Ficamos mais de onze anos brigando para conseguir a rádio. Nossa luta agora é pra criar meios de subsistência”, afirmou o diretor de comunicação Joildo dos Santos. Sem o risco de serem invadidos pela Polícia Federal, como já ocorreu.
Ela conta também que
antes da autorização, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estava
sempre em contato com a rádio, no caso para perseguir. Porém, após a licença de
operação veio o abandono: apesar de no entorno da Cantareira existirem três
rádios na mesma freqüência (em Pirituba e em Perus), a Agência não faz nada.
“Tem uma rádio AM e FM do Bom Retiro, 87.5, da Assembleia de Deus, que se
desligarmos nosso transmissor, ela pega tudo”, denuncia.