Dos atuais 40 parlamentares que controlam diretamente emissoras
de radiodifusão, somente 7 tentaram e não conseguiram se reeleger
Por Bia Barbosa*
Passado o
segundo turno das eleições presidenciais, volta à tona a discussão sobre a nova
composição do Congresso Nacional e sobre como Dilma governará diante do
crescimento de bancadas conservadoras. Nada foi dito até agora, entretanto,
sobre um segmento parlamentar que tem tido enorme sucesso na defesa de seus
interesses: os radiodifusores.
Não é
novidade no Brasil o controle de meios de comunicação de massa por políticos –
fenômeno conhecido por “coronelismo eletrônico”, em referência aos velhos
oligarcas que controlavam o voto a partir do domínio da terra. Nas últimas
décadas, também o domínio do ar – por onde trafegam as ondas do rádio e da
televisão – passou a ser determinante para que políticos se perpetuem no poder.
Os casos
clássicos já se tornaram folclore: a família Sarney, no Maranhão; a família
Magalhães, na Bahia; Collor, em Alagoas; Barbalho, no Pará; e por aí vai. O que
é pouco difundido, por questões óbvias, é que a prática do coronelismo
eletrônico é disseminada em todo o país e adotada pela grande maioria dos
partidos.
Dos
atuais 40 deputados e senadores que controlam diretamente emissoras de
radiodifusão, somente 7 tentaram e não conseguiram se reeleger neste pleito. Os
que garantiram mais um mandato estão em partidos como PSB, PV, PRB, PDT, PSD,
DEM e PR, representando estados como SC, SP, RJ, GO, PE, PI e RO. Ou seja, os
coronéis da mídia tem várias colorações partidárias e muitos sotaques.
Alguns
alçaram vôos mais altos que o Parlamento nacional. O deputado Renan Filho
(PMDB) foi eleito em primeiro turno para o governo de Alagoas. Em sua
declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral e também nos dados da
Anatel, Renan Filho aparece como sócio do Sistema Costa Dourada de
Radiodifusão, que possui três rádios no interior do estado.
Já o
atual presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, também do PMDB, disputou –
mas perdeu no segundo turno – o governo do Rio Grande do Norte, tendo na
bagagem pelo menos quatro emissoras de rádio e a outorga da TV Cabugi, que leva
o sinal da Globo aos potiguares.
Por fim,
sem que este aspecto tenha sido destacado em seu currículo, concorreu ao posto
mais alto do Executivo um conhecido radiodifusor de Minas Gerais: Aecio Neves,
que, ao lado de sua mãe e sua irmã, é acionista da rádio Arco-Íris, retransmissora
da Jovem Pan em Belo Horizonte. Outros parentes de Aecio, que agora voltou ao
Senado, também controla emissoras no interior do estado.
Nenhum
desses políticos reconhece praticar ilegalidades. Apesar de o artigo 54 da
Constituição proibir que deputados e senadores firmem contrato com
concessionárias de serviço público, deputados federais e senadores – assim como
vereadores, prefeitos, deputados estaduais e governadores – continuam
controlando canais de rádio e TV.
O
Ministério das Comunicações, responsável por fiscalizar o serviço, alega estar
de mãos atadas. Apesar de se declarar contra a posse de emissoras por
políticos, o Ministro Paulo Bernardo disse que é preciso aprovar uma nova
regulação do setor para proibir a prática.
Não é esta a compreensão do Ministério Público Federal e de amplos
setores da sociedade que denunciam o uso político deste espaço público e a
contaminação de processos eleitorais por emissoras de parlamentares. Tramita há
três anos no Supremo Tribunal Federal uma ação movida pelo PSOL, a partir de
iniciativa do Intervozes, que pede justamente o cancelamento dessas outorgas e
a exigência de que radiodifusores eleitos, antes de tomar posse, se desfaçam do
controle acionário dessas empresas. Trata-se de uma medida republicana, fundamental
não só para garantir eleições livres, mas para que os meios de comunicação
deixem de ser usados para fins privados no Brasil.
* Bia Barbosa é jornalista, mestre em políticas públicas e integrante da coordenação do Intervozes.
* Bia Barbosa é jornalista, mestre em políticas públicas e integrante da coordenação do Intervozes.
Foto: Luis Macedo/Agência Câmara