O futebol é uma
paixão nacional. E o exercício da nossa liberdade de expressão também precisa
ser. Infelizmente, a intensa campanha midiática em torno do Mundial no Brasil
tem dado pouco espaço a setores que apresentam, legitimamente, críticas à
organização e realização da Copa do Mundo em nosso país. A grande mídia
brasileira foi rápida ao destacar os atrasos na construção dos estádios e
aeroportos – se aproveitando disso para atacar o governo federal –, mas deixou
de lado problemas resultantes das imposições da Fifa ao país e dos lucros
estratosféricos que o próprio setor midiático terá com a Copa.
A realidade é que, mais
que um grande evento esportivo, a Copa do Mundo tornou-se um gigantesco
espetáculo midiático. Mas alguns fatos ficaram longe do centro do noticiário
nacional:
* Acesso à informação sobre os
impactos da Lei Geral da Copa: a Lei 12.663/13 estabelece uma série de
exigências para a realização do Mundial no Brasil – entre elas, o direito da
Fifa e aos grupos por ela indicados terem exclusividade de vender produtos nas
chamadas Áreas de Restrição Comercial, que agregam tudo o que existe em um
perímetro até 2 km em volta dos locais oficiais de competição. Pesquisa feita
pela StreetNet Internacional, que reúne organizações de vendedores informais de
diversos países, mostra que faltam informações para a população em geral sobre
as condições estabelecidas pela Fifa através da Lei. Em um caso como a Copa, a
informação deveria ser primordial para participarmos efetivamente como
cidadãos/ãs sobre o que estão fazendo em nosso país e o que deixarão para nós
como legado deste grande evento.
* O monopólio da TV Globo sobre
os direitos de transmissão do evento: o negócio para a
transmissão da Copa de 2014 foi fechado há oito anos, no final de 2006. A Globo
não informou o valor pago à Fifa para conquistar esse direito. Mas a parceria é
antiga: desde 1970 as duas poderosas fazem acordos entre si. Para a detentora
dos direitos, também não importa se o valor a ser pago é cada vez mais alto. O
retorno é garantido. Só com o que é pago pelos patrocinadores, a Globo embolsou
cerca de R$ 1,44 bilhão. O preço de tabela por cota de patrocínio era de cerca
de R$ 180 milhões. Adicione à conta o que o grupo ganha com a retransmissão dos
jogos para outros veículos. Tal medida reforça a concentração de poder
midiático deste conglomerado das comunicações, na contramão de toda a luta pela
democratização da comunicação no país, transformando a principal festa do
futebol mundial num grande comércio de venda de marcas e produtos e excluindo
as redes públicas de comunicação de todos os países de poderem oferecer este
produto em suas mídias aos seus respectivos povos.
* Os serviços agregados aos
direitos de transmissão dos jogos: o investimento na compra dos direitos
de transmissão também volta para a empresa de mídia com uma mãozinha
generosa do poder público. Um exemplo foi a festa que antecedeu o sorteio das
eliminatórias da Copa, em 2011, no Rio de Janeiro. Prefeitura e Governo do Rio
pagaram R$ 30 milhões para a Globo comandar o evento. Entre recursos públicos e
privados, o faturamento originado por toda a divulgação da Copa chega a um
valor inestimável, já que não há transparência em sua divulgação.
* Repressão às rádios
comunitárias: enquanto os grandes grupos de comunicação lucram com a
Copa, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) já havia anunciado, que,
durante todo o Mundial, seu aparato de fiscalização – e repressão – às
emissoras comunitárias estará reforçado. Em comunicado oficial enviado às
organizações que trabalham com a comunicação comunitária, a agência anunciou
que vai reforçar a fiscalização para “garantir a viabilidade das comunicações
para a Copa do Mundo de 2014”.
Diante desses fatos,
é fundamental a defesa do acesso à informação e do exercício da liberdade de
expressão dos mais diferentes setores da população. Desde os protestos na Copa
das Confederações, diferentes coletivos de mídia, ao fazer a cobertura dos
atos, viabilizar a transmissão ao vivo de protestos e apresentar imagens que
desmontaram falácias policiais, provocaram um importante debate importante
sobre a produção e difusão de informação e conteúdos audiovisuais no país. Ao
mesmo tempo, a mídia hegemônica foi, ela mesma, justamente em função do
histórico de manipulação da informação que tem em nosso país, alvo de protestos
em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Tudo isso deixou
muito clara a necessidade dos diferentes movimentos sociais, organizações da
sociedade civil, coletivos e ativistas debaterem a sério o tema das
comunicações e lutarem pela democratização da mídia no país. Na Copa e durante
outros importantes momentos da história do nosso país, o oligopólio dos meios
de comunicação invisibiliza e tenta calar as lutas populares. Mais uma vez, em
relação ao direito à comunicação, é a população que está perdendo a partida. E
virar este jogo é um desafio de depende de cada um/a de nós.
Informações:
Tomaz (Carta Capital)