quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Rádio aposta em tempo real e interatividade

Ouvido por 89% dos brasileiros, rádio aposta em tempo real e interatividade

por Gabriela Ferigato




Já decretaram seu fim diversas vezes, meras “barrigadas”. Foi assim com a chegada da televisão e com o crescimento da internet. Mas é claro que, como um senhor de noventa e poucos anos, o rádio teve que entender que a sociedade mudou. “Não era assim na minha época”, diria como a maioria dos avós. Como alguém que já viu e viveu de tudo um pouco, usou a experiência para se unir a todas as “ameaças”.



Começando pelo fato de ser onipresente. Está no ônibus a caminho do trabalho, na cozinha de casa, no jogo de futebol ou no carro parado no trânsito. Além disso, é como aqueles tios “moderninhos” que descobriram o áudio no WhatsApp ou o emoticon no Facebook. Usa o streaming, podcast, SMS, redes sociais e tudo o que tem direito.

“A internet potencializou atributos que o rádio possui há várias décadas, como interatividade, segmentação e mobilidade. A rede social já está totalmente inserida na dinâmica das emissoras que desejam estar ainda mais conectadas com as suas audiências, indo além do dial”, diz Fernando Morgado, professor, jornalista, escritor e integrante da equipe responsável pelo projeto de branding da Rádio Globo.

Se os meios de comunicação fossem pessoas, o rádio seria o amigo; o jornal, o professor; a revista, a celebridade; a televisão, a família e a internet, a namorada. Segundo um estudo de mídia realizado pelo Instituto Ibope, o rádio está sempre por perto e representa distração e companhia. Maior do que a população de países como Espanha, Coreia do Sul, Argentina ou Canadá: esse é o alcance do meio no Brasil, levando em conta as 13 principais regiões metropolitanas. Em números reais, são 52 milhões de brasileiros.

Aliás, números não faltam para a CBN. Com quatro emissoras próprias e 29 afiliadas, o pico de audiência no offline, somente nas praças próprias, representa duzentos mil ouvintes/minuto entre as 7 e 9 horas, com alcance de dois milhões de pessoas em trinta dias. São 1,3 milhão de visitantes únicos por mês no site, 450 mil usuários somente em iPhone, cinco milhões de downloads por mês em podcast e setecentas mil curtidas no Facebook.

“Se você imaginar quais são os dois grandes atributos de qualquer mídia encontrará tempo real e interatividade. São duas características que se confundem com o rádio. Em tempos de mexida no mercado, ele ganhou com a internet, acabando com a questão da barreira geográfica. O internauta consome da maneira que for mais conveniente. Outra coisa é que não se paga para ter informação, num mundo onde as pessoas querem informação de graça”, comenta Mariza Tavares, diretora-executiva da CBN.

Convergência

Os jornalistas são como “embaixadores” da emissora. A CBN incentiva os profissionais a usarem seus próprios perfis nas redes sociais. Tania Morales, Milton Jung, Fabíola Cidral, Petria Chaves são usuários assíduos. “O ouvinte quer alguém de carne e osso, o vínculo que se cria é mais forte”, ressalta Mariza. Partindo para o lado visual, uma das grandes apostas da Jovem Pan para este ano é a imagem.

De acordo com Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, presidente da emissora, a partir de outubro todos os estúdios da JP estarão com câmeras e os programas poderão ser vistos e ouvidos nos iPads, iPhones e computadores, por meio do site e do aplicativo. “Acho que a internet tem sinergia com o rádio, por isso foi o meio menos afetado por ela. Pesquisas americanas mostram que ele utilizou a internet para se comunicar melhor com os ouvintes.”

Ao mesmo tempo, o presidente da JP acredita que o rádio “volta para o passado”, com mais notícias, programas, talk shows e prestação de serviço. “Vão sobrar poucas rádios musicais até pela força dos aplicativos como o Spotify, mas isso ainda demora no Brasil”, completa. Morgado corrobora com a previsão. Segundo ele, independentemente do estilo de programação que adotam, nota-se claramente um investimento maior em conteúdo falado, seja informativo ou de entretenimento. “Ao contrário da música, a fala é um conteúdo de propriedade das emissoras, que, por isso, têm liberdade total para difundi-lo em qualquer plataforma e gerar novos negócios a partir dele.”

Apesar de ser uma aposta frequente, o professor pondera que o conceito podcast ainda é pouco difundido no Brasil, ao contrário da “era de ouro” que vive nos Estados Unidos. Como exemplo, cita o “Serial”, spin off do programa “This American Life”. Cada episódio tem a duração que a história exige e os áudios são enriquecidos por textos, fotos, vídeos e infográficos.