O
Presidente Michel Temer ingressou na quarta-feira 9 com uma Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental, na qual pede que o Supremo Tribunal
Federal (STF) declare a inconstitucionalidade de decisões judiciais que têm
impedido a outorga ou renovação de concessões de rádios e TV a políticos detentores de mandatos
eletivos.
Por meio da Advocacia Geral da União (AGU), Temer alegou que
decisões nesse sentido ofendem preceitos fundamentais como o do valor social do
trabalho e da livre iniciativa, da primazia da lei, da livre expressão e da
liberdade de associação. O processo foi distribuído à ministra Rosa Weber.
A ação é uma resposta às investidas do Ministério Público Federal
contra essa prática, que, embora comum, é vedada pela Constituição Federal. No
fim de setembro, o MPF ingressou com ações para derrubar a concessão dos deputados
federais Elcione Barbalho (PMDB/PA) e Cabuçu Borges (PMDB/AP) e do senador
Jader Barbalho (PMDB/PA), todos do partido de Temer.
O MPF argumenta que a Constituição veda que deputados e senadores
celebrem ou mantenham contratos com concessionárias de serviço público, o que
inclui as emissoras de rádio e TV. Além disso, a Constituição veda que
parlamentares sejam proprietários, controladores ou diretores de empresas que
recebam da União benefícios previstos em lei.
Outro argumento do Ministério Público consiste que a Constituição
impede a participação de congressistas em prestadoras de radiodifusão, visto
que tais concessionárias possuem isenção fiscal concedida pela legislação.
Constituição Federal – Art. 54. Os Deputados e Senadores não
poderão:
– firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito
público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas
uniformes;
– ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
– ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
Conflito de interesse
Para o MPF, há um claro “conflito de interesses”, uma vez que cabe ao Congresso Nacional apreciar os atos de concessão e renovação das licenças de emissoras de rádio e TV, além de fiscalizar o serviço. Ou seja, na prática, parlamentares votam e aprovam suas próprias empresas. Por isso, o MPF também tem requerido o cancelamento da outorga ou da renovação para evitar tráfico de influência, como também para proteger os meios de comunicação da ingerência do poder político.
Para o MPF, há um claro “conflito de interesses”, uma vez que cabe ao Congresso Nacional apreciar os atos de concessão e renovação das licenças de emissoras de rádio e TV, além de fiscalizar o serviço. Ou seja, na prática, parlamentares votam e aprovam suas próprias empresas. Por isso, o MPF também tem requerido o cancelamento da outorga ou da renovação para evitar tráfico de influência, como também para proteger os meios de comunicação da ingerência do poder político.
A prática acaba por desequilibrar a disputa eleitoral
privilegiando quem usa a concessão para benefício próprio. Como aponta Ramênia
Vieira, jornalista do Observatório do Direito à Comunicação, os políticos donos
de rádio e TV foram mais bem sucedidos nas últimas eleições para vereador e
prefeito.
Alguns casos são mais conhecidos, como o de Antônio Carlos
Magalhães Neto (ACM Neto), dono do Correio da Bahia, da Globo FM local e da TV
Bahia, afiliada da Rede Globo em Salvador e região. Outros eleitos são figuras
presentes na televisão como apresentadores, a exemplo de João Dória Jr., eleito
em São Paulo.
Temer, caso seja bem sucedido no Supremo, vai angariar um
excelente capital político em seu favor. De acordo com o Sistema de
Acompanhamento de Controle Societário – Siacco, da Anatel, quarenta
parlamentares na ativa são donos de rádio e televisão – alguns com grande peso
político como Aécio Neves, senador por
Minas Gerais, e o líder do PSDB no Senado, Tasso Jereissati.
Carta Capital