Geri (segundo da esquerda pra direita) e Dalmo (de toca) em atividade política no Geisel |
O jornalista, escritor e
ativista social Dalmo Oliveira lança hoje seu primeiro folheto de
cordel numa homenagem póstuma ao poeta Gerimaldo Nunes. “Cordel
Pra Geri” é o título da obra com 29 estrofes em sextilhas. O
lançamento ocorre dentro do projeto cultural ‘Gente é Pra
Brilhar’, que homenageia personalidades das artes e de outras
atividades criativas, residentes na Paraíba. Começa a partir das 19
horas no Casarão dos Azulejos, na Praça do Bispo, no Centro
Histórico de João Pessoa.
“Eventualmente, no meio da
vida, ganhamos outros irmãos. Já crescidos, completos. Donos de si!
Sempre estavam por ali, nos arredores da nossa existência. Do nada
eles surgem. Se aproximam e nos mostram o que é o amor! Nossos pais
e mães biológicos são diferentes. Talvez, até, tenham sido nossos
país ou mães, antes... Se somam à nossa irmandade física e
ancestral! Não importa a idade: se mais velhos ou mais moços...
Esses nos ensinam, nos mostram os caminhos, nos ajudam a decidir e
nos protegem, quando podem. Irmãos e irmãs que foram escolhidos por
Olorum para compor nossa constelação familiar”, escreveu Dalmo em
seu perfil no Facebook no dia 7 de agosto, quando Nunes
faleceu.
Oliveira lembra que começou a
escrever a peça já na viagem de ônibus que fez de Campina Grande
para João Pessoa, vindo para o velório do amigo poeta. “Nada
melhor para homenagear um poeta do que com a poesia. O cordel nasceu
dessa necessidade que eu senti de expressar um pouco o que significou
o Gerimaldo para mim, naquele momento”, acrescenta.
Eles se tornaram amigos em
1988 frequentando a Praça da Alegria do Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes (CCHLA,) no campus I da UFPB, no Castelo Branco. Foi
Dalmo quem estimulou Gerimaldo a mudar de curso, que abandonou a
Biblioteconomia e se transferiu, naquele mesmo ano, para o
Jornalismo. “Geri estava desestimulado com Biblioteconomia. O curso
tinha pouco a ver com aquilo que eGeri realmente queria fazer, mesmo
ele tendo implantado, em anos anteriores, bibliotecas alternativas
comunitárias em Jaguaribe e no Róger. Na Comunicação ele
encontrou um ambiente mais receptivo ao seu perfil artístico, mais
dinâmico e libertário”, lembra o jornalista.
No DECOM (antigo DAC), eles
atuaram juntos no Coletivo Anarquista de João Pessoa e passaram a
colaborar mais intensamente com o Movimento Negro da cidade. “Foi
quando eu conheci João Balula e outros ativistas importantes deste
movimento social. Gerimaldo, nessa época, já era conhecido por sua
poesia engajada e desconsertante. Infelizmente ele não conseguiu
produzir tanto quanto sua habilidade e sensibilidade permitiam”,
lamenta Dalmo.
No teatro amador, Gerimaldo e
Dalmo atuaram juntos nas primeiras formações do Grupo Prefacio, com
Geraldo Santos, Beto Junior, Vagneide Ferreira e Mana Gouveia. O
grupo também encenou a peça “Em Sentido Contrário às Máquinas
Caminha um Homem Tocando seu Violino”, de Pedro Osmar. “Fotografei
algumas performances da intervenção do grupo chamada ‘Prefaciando
Augusto’ no cemitério da Boa Sentença. E cuidei da iluminação e
sonoplastia da peça”, recorda Oliveira.
No início da década de 90,
Gerimaldo foi morar no Ernesto Geisel, aonde constituiu família com
a professora de Letras Tânia Freitas. A casa do casal se transformou
então num ponto cultural e político importante do bairro. “Geri
era um cara festivo, curtidor da vida. Sempre promovia reuniões com
amigos, saraus e festas. No Geisel, ele mostrava aos jovens que o
conheciam a importância da cultura negra. Difundia a obra de Jackson
do Pandeiro (seu conterrâneo), de Cátia de França, Pedro Osmar e
Paulo Ró, Bob Marley, Peter Tosh e tantos outros ícones”, diz
Dalmo.
“Cordel pra Geri” foi
editado por Fábio Mozart e faz parte da política editorial da
Academia de Cordel do Vale do Paraíba. É uma homenagem também
assinada pelo Coletivo de Comunicadores Populares Novos Rumos.