quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Jornalista lança cordel em homenagem póstuma a poeta paraibano

Geri (segundo da esquerda pra direita) e Dalmo (de toca) em atividade política no Geisel



O jornalista, escritor e ativista social Dalmo Oliveira lança hoje seu primeiro folheto de cordel numa homenagem póstuma ao poeta Gerimaldo Nunes. “Cordel Pra Geri” é o título da obra com 29 estrofes em sextilhas. O lançamento ocorre dentro do projeto cultural ‘Gente é Pra Brilhar’, que homenageia personalidades das artes e de outras atividades criativas, residentes na Paraíba. Começa a partir das 19 horas no Casarão dos Azulejos, na Praça do Bispo, no Centro Histórico de João Pessoa.

Eventualmente, no meio da vida, ganhamos outros irmãos. Já crescidos, completos. Donos de si! Sempre estavam por ali, nos arredores da nossa existência. Do nada eles surgem. Se aproximam e nos mostram o que é o amor! Nossos pais e mães biológicos são diferentes. Talvez, até, tenham sido nossos país ou mães, antes... Se somam à nossa irmandade física e ancestral! Não importa a idade: se mais velhos ou mais moços... Esses nos ensinam, nos mostram os caminhos, nos ajudam a decidir e nos protegem, quando podem. Irmãos e irmãs que foram escolhidos por Olorum para compor nossa constelação familiar”, escreveu Dalmo em seu perfil no Facebook no dia 7 de agosto, quando Nunes faleceu.

Oliveira lembra que começou a escrever a peça já na viagem de ônibus que fez de Campina Grande para João Pessoa, vindo para o velório do amigo poeta. “Nada melhor para homenagear um poeta do que com a poesia. O cordel nasceu dessa necessidade que eu senti de expressar um pouco o que significou o Gerimaldo para mim, naquele momento”, acrescenta.

Eles se tornaram amigos em 1988 frequentando a Praça da Alegria do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA,) no campus I da UFPB, no Castelo Branco. Foi Dalmo quem estimulou Gerimaldo a mudar de curso, que abandonou a Biblioteconomia e se transferiu, naquele mesmo ano, para o Jornalismo. “Geri estava desestimulado com Biblioteconomia. O curso tinha pouco a ver com aquilo que eGeri realmente queria fazer, mesmo ele tendo implantado, em anos anteriores, bibliotecas alternativas comunitárias em Jaguaribe e no Róger. Na Comunicação ele encontrou um ambiente mais receptivo ao seu perfil artístico, mais dinâmico e libertário”, lembra o jornalista.

No DECOM (antigo DAC), eles atuaram juntos no Coletivo Anarquista de João Pessoa e passaram a colaborar mais intensamente com o Movimento Negro da cidade. “Foi quando eu conheci João Balula e outros ativistas importantes deste movimento social. Gerimaldo, nessa época, já era conhecido por sua poesia engajada e desconsertante. Infelizmente ele não conseguiu produzir tanto quanto sua habilidade e sensibilidade permitiam”, lamenta Dalmo.

No teatro amador, Gerimaldo e Dalmo atuaram juntos nas primeiras formações do Grupo Prefacio, com Geraldo Santos, Beto Junior, Vagneide Ferreira e Mana Gouveia. O grupo também encenou a peça “Em Sentido Contrário às Máquinas Caminha um Homem Tocando seu Violino”, de Pedro Osmar. “Fotografei algumas performances da intervenção do grupo chamada ‘Prefaciando Augusto’ no cemitério da Boa Sentença. E cuidei da iluminação e sonoplastia da peça”, recorda Oliveira.

No início da década de 90, Gerimaldo foi morar no Ernesto Geisel, aonde constituiu família com a professora de Letras Tânia Freitas. A casa do casal se transformou então num ponto cultural e político importante do bairro. “Geri era um cara festivo, curtidor da vida. Sempre promovia reuniões com amigos, saraus e festas. No Geisel, ele mostrava aos jovens que o conheciam a importância da cultura negra. Difundia a obra de Jackson do Pandeiro (seu conterrâneo), de Cátia de França, Pedro Osmar e Paulo Ró, Bob Marley, Peter Tosh e tantos outros ícones”, diz Dalmo.

Cordel pra Geri” foi editado por Fábio Mozart e faz parte da política editorial da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. É uma homenagem também assinada pelo Coletivo de Comunicadores Populares Novos Rumos.