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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Auto majestoso – Quem não viu, vá ver!

Musical reuniu três grupos de artistas diferentes
 fotos: acervo do Coletivo Porta Cênica
crítica | Dalmo Oliveira

A saga da manjedoura, com o fabuloso nascimento de Jesus Cristo, o “Rei dos Reis”, tem se tornado, há séculos, um roteiro surrado na cabeça dos teatristas do mundo todo. Encenado às vésperas do natal, a história do Nazareno, e todo o enrendo ao seu redor, acaba ganhando um apelo emotivo a mais para as diversas plateias da cultura cristã ocidental. Mas o teatro, quando é bem-feito, consegue se reinventar e re-apresentar, de maneira surpreendente, as histórias mais batidas. É o que acontece agora com o singelo (e belíssimo) Auto do Rei.




Com uma sustentação de cena caprichada do Coletivo Porta Cênica (criado em 2011) o auto agrega ainda mais dois núcleos que se complementam harmoniosamente, na montagem da diretora (ela prefere ser chamada de “encenadora”) Kalline Brito. O delicioso Balé Popular da UFPB, sob a batuta do consagrado coreógrafo Maurício Germano, e um quarteto (quase armorial) montado pelo maestro, arranjador e compositor Bebé de Natércio. 
Kalline Brito: diretora


A cena vai fluindo, primeiro com a dança, tendo como lastro principal cinco peças compostas por Natércio e pelo filho caçula, Xico Bizerra (Francisco Luís): “Gênesis”, “O bom Zacarias”, “Ave Maria da natureza”, “José e Maria” e “O meu rei nasceu”. Tocadas ao vivo, com interpretação de Meire Lima, e a participação de Raoni Barbosa, as músicas dão ao auto um clima de festa medieval (ou barroca), com os músicos e a cantante trajados a caráter, com o belo figurino, parte do acerco deixado por Roberto Cartaxo, fundador do Porta Cênica falecido em outubro, a quem, certamente, o espetáculo é dedicado.

O balé segue entrecortando a narrativa, acrescentando graça e leveza ao espetáculo. As pastorinhas dão um tom super-regionalista, quebrando a discursividade mais sacra do enredo.  Num dado momento, os dançarinos descem do palco e chamam a plateia para a festa, incorporando elementos das performances mambembes circenses, mixados com os folguedos da cultura popular do Nordeste. E haja frevo, maracatu, coco e forró no “cachimbo” pro Menino Jesus. A trilha do musical ficou por conta de André Luiz, um antigo conhecido da cena percussiva e da cultura afroparaibana local.
Balé Popular da UFPB trouxe a dança folclórica



Limites do palco

 As dimensões e a qualidade acústica do palco instalado na Sala Vladimir Carvalho, que fica dentro do complexo da Usina Cultural Energisa, não colaboraram muito para que o espetáculo pudesse apresentar suas potencialidades cênicas. A plateia sentada linearmente em cadeiras de plástico também acaba sendo um ponto limitante. Mas nem por isso o Auto do Rei perde sua força. Destaque para a cenografia de Flávio Dantas, com composições acertadas utilizando referenciais nordestinos importantes como as costuras de retalhos.

Os adereços dos atores e atrizes contam com o toque luxuoso de Chico Viola, realçados competentemente pela maquiagem de Bruno Constantino. Na retaguarda tem ainda a assistência de produção de Heleno Campelo. No elenco principal, além da própria Kalline, e do Constantino, ainda estão Horieby Ribeiro, Bruno Fonseca, Hugo Salvador, Jô Costa e Sônia de Lourdes. O corpo de bailarinos traz Camila Palmeira, Fabiola Magalhães, Heleina Albuquerque, João Victor da Paz, Lidiane Albuquerque, Rafaela Cunha e Rogério Gomes. 
Trilha original ficou por conta de Bebé de Natércio


No último domingo desse ano, 29, ocorre mais uma apresentação. Eles prometem que estarão ainda mais afiados. Eu só digo uma coisa: quem não viu, vá ver!!