Réquiem para o coronelismo midiático
Há mais ou menos 100 anos, a radiodifusão irrompeu no mundo criando novos paradigmas para a Comunicação. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht saudou o novo meio como uma concretização da ágora ateniense, ou seja, um espaço para a participação democrática em todas as esferas da vida, por intermédio da livre manifestação da opinião.
Os “coronéis”, ou seja, os proprietários dos impérios de comunicação perceberam o potencial do rádio e, cooptando pífias e subservientes representações políticas, impuseram rígidas normas para a exploração da radiodifusão, dividindo-a com verdadeiros clãs e castas.
A mídia tradicional brasileira, por exemplo, encontra-se na mão de grupos familiares – Marinho, Saad, Macedo, Mesquita, Frias, Civita, Carvalho e Sirotsky – numa estrutura mais fechada do que as capitanias hereditárias. São os “coronéis” e “barões” da imprensa, que postulam a “ferro e fogo” e “no peito e na raça” a condição de pseudo deuses da “política dos corações e mentes”.
O advento da Sociedade de Informação, resultante da junção das Ciências da Informação + Ciências da Comunicação + Ciências da Computação, possibilitou, através das redes interativas, um novo paradigma de comunicação no qual o cidadão passa a questionar o processo unipolar da disseminação das notícias. Igualmente questiona os limites éticos, revelando que jornalista sem ética tem como destino o ostracismo e o descrédito. Daí a vertiginosa queda de audiência das televisões abertas e o fechamento paulatino de jornais impressos.
No entanto, os “coronéis” e “barões” da mídia tradicional têm que achar um bode expiatório para o ocaso das suas práticas. Nesta semana, o grupo Folha começou a se insurgir contra as novas formas interativas da comunicação buscando “regulamentação” destas. Isso significa a tentativa de manietarem a opinião do cidadão comum, semelhante ao que fizeram com o processo de radiodifusão.
É verdade que nas redes interativas são veiculados fakes, opiniões tendenciosas, maldosas e tudo que caracteriza a condição humana. No entanto, isso não é culpa da internet não. E os programas e jornalecos sensacionalistas que não passam de assassinos de honras e de reputações?
O que se omite é que determinados portais, aqui e alhures, têm formados novas paradigmas de comunicação com textos analíticos e reportagens desveladoras da realidade. Isso sem a farsa da alegação de “linha editorial”, ou seja, uma espécie de licença para desacreditar aqueles que reagem e são contrários às práticas nefastas, abusivas e tendenciosas.
Novos portais têm mostrado o que é a convivência com a diversidade, sem agressões, sem trocas de insultos e sem ameaças. Com isso, decretam o fim do circo da notícia e do show da morte. É o réquiem para o coronelismo da notícia que se deteriorou diante das novas concepções de liberdade, ética, diversidade e esclarecimento.
Josinaldo Malaquias é jornalista, advogado e doutor em sociologia