quinta-feira, 18 de julho de 2013

Reflexões de um militante do movimento de rádios comunitárias em João Pessoa/PB


“Hoje relembrei assuntos que me corroem, e mais uma vez me perguntei em sala de aula, o que estou fazendo nesse curso de direito?

Tudo que escuto naquela sala da UFPB são ilusões que não correspondem à minha realidade. Todos os dias, em minha comunidade vejo direitos consagrados pela Constituição desrespeitados na cara dura, vou pra sala de aula e escuto um monte de teorias lindas, mas quando saio pra pegar o ônibus, me deparo com minha realidade de periferia, chegando em um Jardim Veneza escuro, vazio e calado pelo medo, onde leis estatais são meras besteiras que desconhecemos. Me pergunto de novo: o que estou fazendo nesse curso de Direito longe da minha realidade, onde tudo pra mim soa como mentira e ilusão?

Aqui no Veneza vi amigos e irmãos perderem a vida para o crime e a violência, mas nunca vi essa tal Justiça aqui chegar. Me pergunto de novo, o que estou fazendo nesse curso de direito? Hoje, quando falei sobre episódios do passado, me senti desestimulado porque na minha realidade, a Justiça não é só cega, aqui no Jardim Veneza ela é cega, surda, muda e ainda se faz de doida.
 
Pensando tudo isso, eu lembrei que não estou cursando Direito apenas por mim, mas pela minha comunidade, pelo meu irmão Ramon, morto injustamente pelo braço armado, cruel e sanguinário do Estado, e por todos os companheiros e companheiras que fundaram a Rádio Comunitária Diversidade, os que já morreram e jamais verão a rádio voltar ao ar, e os que continuam na luta. Lembrando disso, sei que tudo que escuto dentro da Universidade não faz parte da minha realidade, mas é meu dever fazer com que venham a ser.


 Ricardson Dias

(A Rádio Comunitária Diversidade foi fechada pela Polícia Federal em 2010).