segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rádio comunitária: longe de se tornar uma mídia revolucionária


Grupo gestor da Rádio Comunitária Mituaçu. À esquerda, Fábio Mozart, da Rádio Zumbi



A gente se empolgou demais. Era a primeira outorga de rádio comunitária para uma área rural quilombola na Paraíba, controlada por associação de moradores da localidade Mituaçu, no município do Conde, Paraíba. O pessoal de lá pediu ajuda, e tão logo sintonizamos o pedido de auxílio, desabalamos na carreira para o mato, para instalar os equipamentos da emissora de baixa potência, mas de alta expectativa para um grupo de pessoas comuns que viviam o sonho de botar no ar uma rádio comunitária.

Nosso grupo é tendencioso. Eu, o jornalista Dalmo Oliveira, o músico Gilberto Júnior e os comunicadores Marcos Veloso e Beto Palhano entendemos rádio comunitária como um projeto democrático e decente de comunicação popular, uma experiência diferente de fazer rádio, sem os clichês, as manhas e os vícios do rádio comercial. Foi o que tentamos passar ao grupo gestor da Rádio Comunitária Mituaçu do Conde.

A realidade: não temos gente treinada para assumir o microfone. Os voluntários praticam um radialismo que é imitação grotesca do rádio comercial. Não existe capacitação para comunicadores e técnicos. A comunicação restrita à comunidade tem uma grande importância na vida das pessoas. O papel do rádio comunitário é difundir idéias para transformar a realidade. Não se faz isso balizando-se na produção da rádio comercial. O planejamento, a gestão, o modo de interagir com o ouvinte, as músicas que toca, os programas que veicula, até a forma de falar dos locutores deve ter um diferencial. Sabemos que isso é complicado porque numa rádio comunitária a inclusão é a palavra de ordem. Tem que ter lugar para o jovem inconsequente e bitolado pelo lixo da indústria cultural, mas é preciso que se tenha um planejamento para alcançar objetivos estratégicos e administrar os conflitos. O que não se pode fazer é criar uma rádio que, ao fim, é apenas uma “Jovem Pan de fundo de quintal”, como já definiu alguém.

A Rádio Mituaçu é uma estação de rádio do movimento popular. Precisa se ver como uma mídia revolucionária, um instrumento autêntico do poder popular. Falta muito para isso.