domingo, 11 de setembro de 2011

Moradores do Jardim Veneza lutam pela sua rádio comunitária


Na foto, dois protagonistas da história da Rádio Comunitária Diversidade do Jardim Veneza, em João Pessoa: Marcelo Ricardo e Josiel Barriga de Mel. Eles exibem um exemplar do meu livro, que é uma espécie de “manual de sobrevivência” para os que brigam contra os que querem calar a voz do povo.


Por Fábio Mozart

Até já contei essa história aqui. O cara botou no juízo que deveria jogar no ar uma rádio comunitária. Juntou mais uns quatro ou cinco birutas, fez uns arranjos no quartinho dos fundos da casa e comprou os equipamentos básicos de uma estação de rádio de baixa potência, com a ajuda do irmão, avó, vizinhos e conhecidos. Depois, muitas alegrias, sensação de compartilhamento comunitário, o povo se juntando, o pastor delirando com a possibilidade de pregar seu evangelho, as moças catequistas, os poetas, os forrozeiros, a turma do hip hop se chegando, o moço que gosta de Roberto Carlos, todo mundo querendo transmitir sua graça, seu apelo, sua palavra de carinho, sua música preferida, seu dengo, sua esperança, sua mágoa, sua reclamação e a mensagem chegando limpinha, magicamente clara nos rádios das casas.

Por um momento, aquele grupo de jovens teve a sensação estranha de que a vida é justa e não é tão ruim morar numa comunidade distante, pobre e esquecida. A rádio comunitária, que tem a principal função de fornecer serviços e voz à sua comunidade, é fundamental pra uma população que só é notícia nas rádios comuns quando acontece um crime no bairro. Foi quando formaram a diretoria, o conselho e todas as exigências legais para pedir autorização ao Governo para utilizar o canal que é público.

O Governo fez ouvidos de mercador e a rádio continuou transmitindo. Foi quando a denúncia feita pelos políticos e empresários trouxe a polícia federal que apreendeu todo o equipamento, processou os responsáveis e multou a rádio em quase três mil reais.

Mas ninguém nasceu pra vítima e perdedor. A comunidade volta a lutar pela rádio, cotizando-se para pagar a multa e comprar novamente os equipamentos. Eu conto essa e outras histórias de lutas populares em torno de projetos de comunicação comunitária no meu livro “Democracia no ar”.


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